Nem sempre o pior tipo de Lashón Hará proferida é aquela que atenta contra o outro, no caso de pessoas que dedicam sua existência à falar mal do semelhante. Há um caso mais sério, que é quando dedicamos nossa vida a falar mal de nós mesmos e de nossas conquistas. Como se tudo o que tivéssemos fosse sempre menor e indigno de prestígio.
Conta-se que em Jerusalém havia um grande Chacham (sábio) e que muitas pessoas gostavam de se aconselhar com ele. Muitos diziam que suas idéias eram mirabolantes e até - em certo ponto - loucas, mas que sempre dava certo. Então, quando pediam para procurar o Rabi, que executassem as suas ordens, por mais absurdas que parecessem.
Então, certa vez, um homem muito pobre procurou o mestre, pois não aguentava mais as condições nas quais sua família vivia. Ele relatou que era infernal viver num casebre de cômodo único com dez filhos e a esposa, pois ninguém tinha espaço, privacidade ou conforto.
O mestre o ouviu atentamente os problemas do homem e logo, perguntou:
- Vocês têm uma vaca?
- Vaca? Perguntou o homem, sem entender nada. Sim, temos uma vaca leiteira que nos supre com leite e derivados.
- Pois bem, pegue então sua vaca e coloque-a dentro de casa. Deixe-a em casa durante uma semana e depois retorne para falar comigo.
- Tudo bem, assentiu o homem, incrédulo com o conselho do Chacham.
Havia passado uma semana e o homem voltou desesperado, para falar com o mestre. Então o sábio perguntou:
- Como está tudo?
- Está um inferno! Minha vida já era ruim, agora ficou pior com aquela vaca em casa mugindo, fazendo necessidades e disputando o pouco espaço que já tínhamos.
- Pois bem. Agora tire a vaca de casa e a mantenha assim, em uma semana retorne para falar comigo, disse o Rav.
Passada a semana, o homem retorna à casa do sábio com um ar totalmente diferente. Parecia descansado e feliz, mal lembrava aquele que procurara o sábio dias atrás. Então o mestre perguntou:
- Como anda tudo?
- Nunca estive tão bem! Desde o dia em que a vaca saiu de nossa casa, a vida mudou. Temos lugar para todos e descobrimos quão espaçosa é a nossa casa!
Shalom,
Rafael Chiconeli
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