Como se concedia a iniciação?
É o que nenhum documento preciso nos afirma com certeza. Há, em diversos lugares, uma lenda que não parece despida de fundamento e onde se fala de terríveis provas, às quais eram submetidos aqueles que deviam, depois da vitória, serem admitidos à iniciação.Estas provas, como em todos os ritos iniciáticos, eram praticadas nos Templos.Os de Tebas e de Menfis guardaram o mais ilustre renome entre os santuários do Egito antigo.A grande pirâmide de Kheops, perto da qual a esfinge guarda a sua atitude vigilante, foi também um lugar de iniciação, célebre entre os mais reputados.
Ante de tudo, o futuro iniciado era posto ao corrente das dificuldades da tarefa à qual ele ousava enfrentar.Era conduzido até a estátua de Isis assentada, tendo sobre os joelhos um livro fechado e cujo corpo e rosto estavam cobertos por um véu impenetrável, onde estava escrito: “Eu sou a grande Isis; nenhum mortal levantou o véu que me encobre”.A Esfinge com a sua quádrupla do enigma: Saber, Querer, Ousar, Calar.
A sua data de construção é do tempo das dinastias fabulosas dos Shesú-Hor.As pirâmides são muitas conhecidas, não sendo necessário a sua descrição.A tradição relata que as iniciações sagradas se faziam em parte na Esfinge e em parte na grande pirâmide que continha salas especiais para esse fim.O Abade Terrason, em um romance fala sobre o herói Séthos, que está animado do mais vivo desejo de ser iniciado.
Séthos tem por dever instruir-se e preparar-se por meio de longos trabalhos para as revelações que ele solicitou.Amadeu, seu mestre, enfrente a grande pirâmide lhe diz: “Seus caminhos secretos conduzem os homens queridos dos deuses a um termo que eu apenas não posso citar e que é preciso que os deuses, façam nascer em vós o desejo. A entrada da pirâmide está aberta a todo o mundo; mas eu lamento aqueles que saindo pela mesma porta por onde entraram, não tenham satisfeito senão uma curiosidade muito imperfeita e só tenham visto o que lhes é permitido contar”.
Séthos entrou no caminho das provas; porém, que provas eram estas?1- A da Terra: dois iniciados o levam por um corredor estreito até um lugar sem outra saída senão a abertura por onde tinham entrado.À claridade de uma lâmpada, via-se um poço de uma profundidade desmesurada, era a morte certa. O poço parecia insondável.Aqueles que não tinham coragem, detinham-se. O terror privava-os dos meios de descobrir o segredo de um acesso fácil.Na sombra, dissimulavam-se os degraus de ferro que permitiam ao pretendente descer. Os degraus acabavam subitamente, muito antes que o adepto pudesse atingir ao fundo e o pretendente cria-se votado a uma morte certa.
Entretanto na sombra do poço, uma espécie de janela acessível depois do último degrau, levava para outro caminho nas profundezas que terminava em frente a um portal, atrás dele escadas com claridade e sons de vozes humanas o conduzia a um Templo, onde havia o caminho das purificações com esta inscrição: “Quem fizer este caminho só e sem olhar para trás, será purificado pelo fogo, pela água e pelo ar; e se puder vencer o terror da morte, sairá do seio da terra, tornará a ver a luz e terá o direito de preparar a sua alma para a revelação dos mistérios da grande Deusa Isis”.
Aquele que não retrocedia, avançava pelo corredor que levava a uma porta, onde três homens portavam capacetes levando a cabeça de Anúbis, era a porta da morte que conduzia ao renascimento, e um deles dizia: “nós não estamos aqui para impedir o teu caminho. Segue-o, se os deuses te derem coragem. Mas, se sentes infeliz, podes voltar sobre teus passos; podes ainda voltar. Todavia, desde este momento, não poderás sair mais destes lugares, se não saíres agora a toda pressa pela passagem que se abre diante de ti, sem voltar a cabeça e sem recuar”.Era de uma clareza perfeita e o candidato tinha ainda a liberdade de escolher – para sofrer as provas inevitáveis ou voltar à vida ordinária.
Geralmente, prosseguia a senda e era neste momento que as terríveis provas recomeçavam.
2- A do Fogo: ao entrar por uma porta, achava-se em uma câmara abobadada que resplandecia de luzes estranhas. Ela estava toda em fogo. Grandes fogueiras estavam de cada lado e, no solo, estava colocada uma grade de ferro vermelha pelo fogo. Esta grade formava losangos bem grandes para que o pé do candidato pudesse colocar-se nos interstícios. Parecia que um ser vivo não poderia enfrentar esta fornalha sem perecer queimado ou sufocado.
O juramento prestado fechava toda a saída, e o desejo da iniciação devia ser mais forte do que o terror das chamas.Além disso, as chamas extinguiam-se por si, desde que o aspirante tivesse passado, e, quando ele se reencontrava em uma sala livre, depois desta prova terrificante, o futuro iniciado, sem perceber o que tinha feito, sentia que seu valor e sua constância tinham vencido a um duro obstáculo, e este pensamento o encorajava no prosseguimento de suas provas.
3- A da Água: ele avançava por novas galerias e, de súbito achava-se diante de um canal largo, que lhe impedia o caminho. Onde a água entrava de um lado desta câmara subterrânea gradeada e saía por outra grade do outro lado.Esta massa de água escoava-se com um grande ruído.
Mas, qualquer que fosse o perigo, a iniciação era o premio. Sobre a margem oposta, via-se duas rampas emergirem da água para conduzirem a uma arcada, sobre a qual apareciam degraus que se perdiam na penumbra. O candidato descia até a água, tomava em uma das mãos a sua lâmpada acesa e atravessava este rio subterrâneo com uma só mão a lutar contra a correnteza forte. A travessia não era muito longa, mas também não era sem perigo. Após completar a travessia, ele sabia que nova prova o esperava.
4- A do Ar: o candidato subia os degraus da escada, e quando chegava ao alto desta escadaria achava-se sobre um pequeno patamar, que era na realidade uma ponte levadiça, e que conduzia a uma porta, mas esta não apresentava nenhum meio para abrir diretamente, nela achavam-se suspensos dois grandes anéis e era impossível ao candidato, depois de ter experimentado abrir esta porta, não ter o pensamento de que estes anéis tivessem uma utilidade e que dissimulavam, talvez, qualquer segredo capaz de abrir-la.
Ao segurar os anéis, a ponte levadiça se movia e o candidato se achava suspenso entre no ar, esperando a salvação de qualquer mão libertadora.Os anéis levantavam-se por sua vez, com o candidato pendurado, a lâmpada que trazia, abandonada sobre a ponte, virava, deixando nas trevas aquele que tinha tanta necessidade de luz.Neste momento, o ar era violentamente agitado como por uma tempestade desconhecida e o candidato, sempre pendurado, tateava no vácuo e na obscuridade, devendo vencer por sua vez o legítimo terror e fadiga de sua penosa posição.Mas, no momento que suas forças iam faltar, os dois anéis desciam, e o aspirante retomava contato com a terra.O que se oferecia aos seus olhos era de natureza a apagar a lembrança de suas penas.
Então ele via a Luz.
A vasta sala de um templo cintilava então aos seus olhos deslumbrados.Sacerdotes formavam alas que iam da porta até o fundo do santuário, eram finalmente as boas vindas.O aspirante recebia um copo de água pura, símbolo da iniciação e da purificação ao mesmo tempo.Ele era levado ante as estátuas de Osíris, Isis e Horus; e o sacerdote dizia:“Isis, grande Deusa dos egípcios, daí o vosso espírito ao novo servo, que venceu tantas provas e tantos trabalhos para se apresentar diante de vós. Tornai-o vitorioso do mesmo modo nas provas de sua alma, que o tornarão dócil às vossas leis, e que mereça ser admitido em vossos mistérios”.
Havia chegado ao termo de suas experiências materiais. Passara pela prova da Terra, achava-se purificado pelo Fogo, pela Água e pelo Ar.Ele havia vencido o terror da morte. Tinha o direito de ver a Luz. Podia preparar a sua alma para as revelações esperadas. Era admitido aos Mistérios de Isis.Fosse qual fosse o ensinamento desses Mistérios, não podia deixar senão uma impressão no espírito e as boas sensações daquele que as tinha conquistado de modo tão caro. Por isso os Mistérios de Isis deixaram na literatura e nas artes gráficas, um traço mais considerável do que qualquer outra iniciação.
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